PÁGINAS

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TEXTOS TRANSFIGURADOS DE JOELMA BITTENCOURT


Uma palavra
sem pena
não faz poema


Tantas sobras
atravancando
caminhos:

passarinhos
passarinhos
limpem o chão!


Somos ínfimos demais
para certos lugares?

Repara! 
há lugares imensos
cabendo na gente.


Palavra

é rio sem água

e se corre

e deságua
é por força
de um olhar


Das tantas vezes
que me perguntaram
respondi: sou não...
mas há em mim quem duvide.


O bom poema
é aquele que varia
conforme os humores!


Caro Leminski
caso não saiba
aviso que o bicho alfabeto
agora tem vinte e seis patas
ou quase


(Joelma Bittencourt)


* Para ler mais a poeta de mão cheia, clique AQUI.



Fala- Secos & Molhados

terça-feira, 27 de novembro de 2012

PERGUNTAS SEM RESPOSTA


 

...Se pergunto às pedras elas me dizem de ser pedras, se pergunto a ti não obtenho respostas...

 

Por que querer-te

Se partes em tardes

E partes nu

Das partes que fomos?

 

Por que querer-te

Se me quebras as asas

E o encanto de uma vez só?

Se me soltas em pleno vôo

Sem dó?

 

Por que querer-te

Se teus olhos só dizem

Passados aos meus?

Se ficaste na quietude

De um simples adeus?

 

Passaram-se os dias e o encanto passou junto....

É impossível olhar para o silêncio da vida, e não perceber os sonhos todos diluídos em noites sem estrelas.

Nem um de nós lembrou de descobrir estrelas afastando nuvens, e nem soube deixar nesgas de céu adentrar, por frinchas, a vida.

É duro constatar que lá longe no caminho houve uma desistência, porque havia espinho e os pés foram tolos o bastante para não pisarem feridos. Tivessem eles  mostrado que também se caminha em carne viva.

Agora haveríamos de contar estrelas num céu descoberto e nem só pedras  me responderiam de ser pedras.

Tu também me reponderias, de ter sido sonho! 

 

Lázara papandrea

domingo, 25 de novembro de 2012

Dois poemas de Zenilda Lua


Com coração sertanejo na terra de Cassiano Ricardo, Zenilda Lua faz toda prosa ficar poesia.

1- 
Cuidei da falta tua
gota a gota
sol ante sol
vesti-me de intervalos
oferta, vigília
e continuei cuidadosa
aguardando o término
dessa sua licença de mim...


2- 
Chegou o tempo do abrandamento
As pedras se dizimaram dando lugar as perolas
Não haverá mais febre, lacunas, desencanto
Só pólen, cítara e carruagem de desejos recíprocos
Nossas lembranças serão idênticas
E toda ardência apascentada
Tua certeza; minha homilia
Minha falta de rima, a concretude da poesia
Pra tua alma ágape.


Para saber mais sobre a autora acesse o blogue: http://zenildalua-alfazema.blogspot.com.br/


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dois poemas de Mariana Botelho

1.

não sei verbalizar
o abismo

sei cair
dentro dele
como dois olhos que eu avisto e temo

e o chão se demora -
amor -
a tocar meus pés



2.

é uma cidade muito pequena

paratanta distância


é preciso

ir devagar

com os cuidados, meu pai


devagar com os cuidados


é uma cidade muito pequena
para caber tanta dor


Poemas publicados no blog da autora: Suave Coisa - Pra ser guardado.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O incenso do verso no verbo: Karinne Santiago


“Me inspiraram a cortejar as palavras” 

 http://poeticaria-ensaiodaspalavras.blogspot.com.br/

 http://poesiaantimonotonia.blogspot.com.br/

 

 BAILARINA INDIANA VERSA MANTRA SOBRE ANJOS


minha solidão encostou-se à sua
achei engraçado nosso molde
diferentes versões sobre amar
aninhada entre vozes e novelas
debruço-me em seu peito

&&&&&&&&&&

 

em si: a solidão fulgura: em mim inaugura só


impregnada de mim e singular eu
sopro restrito em canto uníssono
monólogos de reflexos únicos
apenas sou, digo-me...

dei-me absorta
a passear-me povoada
numa solidão de próprio
logo me defronto 

&&&&&&&&&&

meus olhos não deslizam só verdades
confessam a fome dos dias solitários
reascendem antigos brios e invadem
vestígios de amores desencontrados

&&&&&&&&&&

nua antecipo em suas mãos
as cicatrizes que me fazem
o arrepio da carne, a cerne
do ventre que me remete
à bela liberdade dos seios

&&&&&&&&&&

a menina não chorava pétalas
não caia dos olhos tal maciez
era um cravo 
vestígio de morte
era um espinho
ferido




terça-feira, 20 de novembro de 2012

DOIS POEMAS DE FRED CAJU

 

ORAÇÂO PARA AS PAREDES


Todas as manhãs virava um padre,
ele era feliz com a sua loucura.
Quando o sol despertava seu dia,
ele incorpora sua outra postura.
Gritando que salvaria o rebanho,
lia alto as sagradas escrituras.
Ninguém queria ouvir da palavra,
logo, bradava em elevada altura.
Falava aos seus fiéis-fantasmas,
dizia que sabia qual era a cura.
O passado do velho era sinistro,
por isso buscava a sua redenção.
Faz a reza para as suas paredes,
o seu público era só imaginação.
Esse senhor não via outra saída,
necessitava se dedicar à oração.
Dizia ao seu público imaginário:
“deus é a nossa única salvação!”
E assim, o padre esquizofrênico,
marcha sozinho com a sua missão.



SEM MAQUIAGEM


Dizem que ele é muito forte,
que nem tinha medo da morte.
Mas o seu coração não é de aço,
se escondendo atrás da piada,
nem o seu ofício de palhaço
autoriza alguma risada.

— Quando o seu rosto está pintado,
como o poeta, é amado.
Nunca teve muitos amigos,
só a sua sombra anda consigo.
Dividindo a vida meio a meio:
um lado vive na solidão
o outro lado, no riso alheio;
são dois homens em um coração.
— Sem a maquiagem é anônimo,
como o poeta sem pseudônimo.

O palhaço, mestre do riso,
era movido por sorrisos.
Mas com uma piada sem graça,
fica reduzido ao ridículo;
sente uma dor que nunca passa,
como pancada no testículo.
— O palhaço mostra suas cores,
como o poeta, as suas dores.

O palhaço ganha coragem
quando está com a maquiagem.
Ele não sente nenhum medo,
parece ser uma pessoa pura
que não esconde seus segredos;
faz do seu trabalho, sua cura.
— Ele só sabe trabalhar,
como o poeta, só chorar.

Quando põe o nariz vermelho,
sonha, encarando o espelho.
Às vezes pensa em desistir,
mas pensa ser tarde demais,
pois se pararem de sorrir,
ele não ficará em paz.
— Ele tenta deixar de ser,
como o poeta, se perder.



Para ler mais de Fred Caju acesse seu blog  SÁBADOS DE CAJU



 

sábado, 17 de novembro de 2012

3 belos poemas de Lou Vilela



SEM HORA

O poema chegou-me pronto, vermelho
Trazia um brilho no olhar
E nos amamos, tocados
Pela fúria do instante


POESIA A MAR ABERTO

Ela alimentava o meu vício
: eu insistia, insistia.
Mal-acostumado, embriagado
repetia-me – um fraco, apaixonado.

Para tê-la em meus braços,
sentia o ópio, pulsava o caos,
vasculhava instantes,
amor sem igual.

Já não importava pagar, ou ser pago;
o risível, o onanismo dos troncos
às copas das árvores.

A louca forjava-me
atitude, possibilidades
: eu insistia!


TARDE GRIS

não me tomes por triste quando relato
o meu, o teu - o nosso cansaço
entrecortado
animosidade gutural

não me tomes por triste
só poeira, olhar alérgico
descompasso
trans.formação

não, não me tomes por triste
cada veio, cada rasgo provém
de um tempo que esfola
e abriga


Lou Vilela é poeta, administradora e especialista em logística estratégica. Edita o belíssimo blog "Nudez Poética" - http://nudezpoetica.blogspot.com.br/

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Poemas de Lalo Arias



DORMIR AO RELENTO

De onde vem
essa doce lembrança
e o simples hábito
de despertar feliz
neste tempo
de ausência
de misericórdia
e de uma palavra
com 4 letras?
De onde vem
a sensação
de que o vento
a passagem dele
corta e afaga
magoa e acolhe?

Pense no vento,
digo a ela,
ele é poderoso
só por ser invisível

DEUS MORREU ONTEM À NOITE

Com a lua cheia
entre os dentes
e eu te pergunto:
você poderia tocar
meu centro?
No lugar onde estamos
tudo virará pó
Sou um homem
pobre
meus sapatos pesam
poderia estar descalço
poderia estar nu
Mesmo assim você me tocaria?
Se eu fosse verdadeiro
seria só alma
Estou ao teu lado
e você não me vê
Não vou perguntar
outra vez
(fevereiro, 2012)

Posted 10th February by Lalo Arias
Labels: Deus Morreu Ontem à Noite
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ALÉM DA PASÁRGADA

Como se houvesse algo realmente importante
pra dizer
Como falar do cansaço
e do terror?
Mas é bom lembrar que também vi paisagens
e uma era mais perfeita que a outra
porém
elas cambiavam eternas
Diferente do que acontece
nesta vida
Não falo de toda a vida
mas do tempo de espera
– como este ar congelado
em pleno verão
Vou sentir falta
de sentir
Estarei perto de quem amei?
Gostaria de saber
Gostaria que alguém me dissesse algo
a respeito

encontro dos poetas insones
ENCONTRO DOS POETAS INSONES

Numa noite
cheia de tédio e heroísmo
desespero, saciedade
caminhamos
mais uma vez
sob chuva
e fomos a chuva
Em nome do amor, da rebelião
naquela noite clamamos sob o torpor
do vinho
e fomos o vinho
De um lado
ou acima
pouco importa
choveu e choveu
Um disse
estamos a salvo
Outro calou
mas sorriu
como se declarasse amor
mais uma vez
ao vento
E fomos o vento
Somos tantos
apaixonadamente plenos de raiva
e separação
Somos tantos
uma insígnia
ao lado de outra insígnia
estrela ao lado de estrela
Pouco importa
Declaramos guerra
à guerra
Mais uma vez
não estaremos a salvo

Mais da poesia de Lalo Arias AQUI


Seleção de Maria da Graça

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

José Agostinho Baptista

SILÊNCIO

Uma noite,
quando o mundo já era muito triste,
veio um pássaro da chuva e entrou no
teu peito,
e aí, como um queixume,
ouviu-se essa voz de dor que já era a tua
voz,
como um metal fino,
uma lâmina no coração dos pássaros.

Agora,
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.


EXCERTOS

«Nos tímpanos,
como um acorde desmedido,
a cava respiração dos desertos assola-te.
Contorces-te, quando me aproximo,
e benditos são os frutos do teu ventre, no oásis onde
amadurecem.
Mas não temos tempo.
Envelhecemos,
vamos e voltamos,
e ao irmos e virmos, somos a errância dos pés, entregues
à sua mecânica,
indiferentes aos pesares,
desfalecendo, retomando a marcha,
a estrada tantas vezes percorrida por uns olhos abertos
que já não vêem,
tão habituados a reter nas suas órbitas as paisagens do
desalento.»

José Agostinho Baptista

Nasceu a 15 de Agosto de 1948 na cidade do Funchal (Ilha da Madeira). Colaborou na imprensa, nomeadamente no Comércio do Funchal e mais tarde no República e no Diário de Lisboa, cujo suplemento "O Juvenil" o tornou conhecido como poeta. Desde então e ao longo dos dez livros já publicados, a sua poesia vem sendo reconhecida como uma dos mais originais e importantes na actualidade, como bem assinalaram, entre outros, António Ramos Rosa, Fernando Pinto do Amaral ou Joaquim Manuel Magalhães nos ensaios que lhe dedicaram. Simultaneamente, José Agostinho Baptista tem vindo a assinar diversas traduções de autores como Walt Whitman, W.B. Yeats, Tennessee Williams, Paul Bowles, Enrique Vila-Matas.http://www.jabaptista.com/

domingo, 11 de novembro de 2012

Do excelente livro Boneca russa em casa de silêncios, de Daniela Delias

Dentro


eu estava dentro do quarto
havia tanto dentro, você dizia
tantas portas e ruas e longes
como dias e horas e versos
apinhados de sede e de ontens

eu estava aqui dentro, você me ouvia?
boneca russa em casa de silêncios
antes do verbo, dentro da carne
meus tambores apontavam a direção

tão dentro, tão dentro, você repetia
e eu naquele vestido cor de arco-íris e espera
sandálias vermelhas, vontades, pulseiras
poemas espalhados por todo o chão


Trilhos

eu falava sobre ontens e estrelas
e media a altura dos astros

queria saber desses longes
onde para sempre e antes
as cinzas de agosto
não tocariam os meus sapatos

você falava sobre caminhos de ferro
e subvertia a lógica dos lábios

já me sabia vento, versos, palavra
queria agora e para sempre e antes
as horas de setembo
e os beijos intermináveis

sábado, 10 de novembro de 2012

Romance




Existiram pela tarde
e nas lagoas da noite
sentiram o cheiro que tinham
e iluminaram a pele
antes da aurora marcada.

Cantaram hinos
arfaram
as bandeiras da alegria
todas as noites do ano
tremendo no calendário.

Inexistiram
na noite sem aurora
nem lagoas
guardadas as bandeiras
refeito o calendário.